Não temos muitas informações diretas sobre o casamento no tempo de Jesus. É verdade que o Evangelho de João conta as "Bodas de Canã", mas sem entrar em detalhes sobre a sua celebração. Por isso é importante consultar fontes paralelas. Uma bibliografia clássica é a obra de De Vaux (As Instituíções do Antigo Testamento), que tem um capítulo interamente dedicado ao casamento. Ele toma em consideração diversos aspectos da vida do casal: poligamia, tipo de casamento, a escolha da esposa, o noivado, a celebração do casamento, o divórcio, adultério, levirato. Se você puder ler em inglês, em www.questia.com encontra essa obra. De Vaux, contudo, fala exclusivamente do ambiente do Antigo Testamento, embora seja dali que deriva as práticas vividas no tempo de Jesus. Outra obra de referência é a Mishnah. É um livro que reúne os ensinamentos que os mestres repetiam aos discípulos. É a torah oral do povo judeu. Embora fosse uma tradição oral, no Século II depois de Cristo, o Rabino Yehudá Hanassi colocou esses ensinamentos por escrito. O livro é dividido em seis "ordens"(sedarim), divididos por sua vez em tratados (massechtot). A terceira "ordem", Nashim, contém as régulas sobre casamento, divórcio. Os seus tratados são: Yevamot (levirato), Ketubbot (contratos de casamento), Nedarim (votos), Nazir (sobre os nazireus), Sotà (mulher sospeita de adultério), Ghittin (divórcio) e Kiddushin (casamento).

Obviamente o espaço aqui é reduzido para transcrever todas as idéias presentes nessas duas importantes obras. A sua menção tem como intenção fornecer fontes para estudos mais profundos.

Através do Antigo Testamento é evidente que a celebração do casamento é uma realidade exclusivamente civil, ou seja, não é sancionado por nenhum ato religioso. Portanto não existe uma celebração religiosa do casamento, como aquela realizada hoje em nossas igrejas. É verdade que em Malaquias 2,14 o profeta diz que a esposa é a "mulher da aliança". E sabemos que "aliança"(berit) compreende essencialmente um pacto religioso. Todavia, em relação ao matrimônio, esse pacto é simplesmente o "contrato de casamento".

A única referência a um contrato de matrimônio na Bíblia é encontrada em Tobias 7,13. Nesse capítulo Ragüel, pai de Sara, dá sua filha a Tobias como esposa. A partir do versículo 12 assim diz o texto:
Ragüel chamou sua filha Sara e, quando ela se apresentou, tomou-a pela mão e entregou-a a Tobias, dizendo: "Recebe-a, pois ela te é dada por esposa, segundo a lei e a sentença escrita no livro de Moisés. Toma-a e leva-a feliz para a casa de teu pai. E que o Deus do Céu vos guie em paz pelo bom caminho. Chamou depois a mãe da moça e mandou que trouxesse uma folha de papiro, e redigiu o contrato de casamento, pelo qual dava a Tobias sua filha por esposa, conforme o artigo da Lei de Moisés. Depois disso começaram a comer e a beber.

Segundo a Mishna (veja também Deuteronômio 20,7), o matrimônio comprendia duas etapas: erusin e nissu"in. A primeira etapa é como um noivado, celebrado diante de duas testemunhas, quando o noivo dizia "seja você consagrada a mim...". Através deste ato a moça era "reservada"ao rapaz, todavia sem relação conjugal. Trata-se já de um compromisso que não se podia dissolver (só com divórcio ou morte), mas não é ainda uma relação matrimonial.
Algum tempo depois (12 meses em alguns casos) se concretiza o matrimônio, o nissu"in. Não era um ato automático, pois o consenso de ambas as partes era necessário.