A pergunta completa do nosso leitor diz assim: 

Gostaria de entender a passagem em Mateus que fala sobre jesus e Pedro pagarem impostos. Entendo o contexto espiritual porém não o teológico. Muitos dizem que só Pedro era de maior e os outros discípulos todos de menor. Porém como pode um cobrador de impostos ser de menor? Pedro era sócio dos irmãos nos barcos. A Bíblia indica que tinham profissão exceto alguns que não se fala muito deles. Será que vocês poderiam me ajudar na área da história e da teologia?

Essa pergunta se refere ao texto de Mateus 17,24-27:

Quando chegaram a Cafarnaum, os coletores da didracma aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: "vosso mestre não paga a didracma?" Pedro respondeu: "Sim". Ao entrar em casa, Jesus antecipou-se-lhe, dizendo: "Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra tributos ou impostos? Dos seus filhos ou dos estranhos?" Como ele respondesse "Dos estranhos", Jesus lhe disse: "Logo, os filhos estão isentos. Mas para que não os escandalizemos, vai ao mar e joga o anzol. O primeiro peixe que subir, segura-o e abre-lhe a boca. Acharás aí um estáter. Pega-o e entrega-o a eles por mim e por ti". (tradução da Bíblia de Jerusalém)

Como podemos ver, trata-se de uma conversa entre Pedro e Jesus sobre um imposto chamado "didracma".

 

A taxa em questão

Trata-se de um imposto diferente daquele mencionado em Lucas 20,24 (denário), imposto devido ao governo romano, que reinava na Palestina no tempo de Cristo (Dai a César o que é de César). Mateus aqui está falando, invés, de uma taxa que todo homem, com mais de 20 anos, devia pagar para ajudar na manutenção do templo de Jerusalém. Essa taxa pode ter a origem em Êxodo 30,12-14. Conforme essa passagem, cada homem, com mais de 20 anos, devia pagar, por ocasião de um censo, meio siclo como “resgate da própria pessoa”. É provável que tenha nascido assim, mas no tempo de Cristo era uma taxa anual, como é mencionado inclusive por Josepo Flavio (Antiguidades 18,1.9). Filone inclusive diz que até mesmo judeus que moravam fora do império romano se esforçavam para pagar tal taxa, que era recolhida em Jerusalém. Existiam pessoas encarregadas de recolher essa taxa, que não eram os tradicionais cobradores de impostos, os publicanos, que trabalhavam para o império romano, como Mateus. Esses lidavam com as taxas civis. Essa invés, era uma taxa religiosa.

Precisa, portanto ter presente essa diferença básica: a taxa da qual se fala não é uma coisa obrigada; existe uma expectativa que todos paguem, mas é sempre algo voluntário, não sendo uma coisa exigida pelos governantes. O ensinamento que segue tem esse pano de fundo e supõe essa distinção entre taxa obrigatória e taxa voluntária.

 

Ensinamento teológico da passagem

Pedro responde às pessoas que recolhiam a taxa para o Templo que era costume de Jesus pagá-la. Portanto, Jesus era completamente em harmonia com os costumes da época. Todavia, e aqui está o cerne desses versículos, a ocasião serve para Jesus sublinhar a sua natureza, o seu ser filho de Deus. Através de uma comparação, ele lembra que os filhos dos reis não pagam as taxas civis. Do mesmo modo ele, como filho de Deus, não deveria pagar as taxas “religiosas”. Jesus, em síntese, faz o seguinte raciocínio: “essa é uma taxa para manter a casa do meu Pai; por isso, eu, como seu filho, estou livre de pagá-la”.

Jesus se refere a si mesmo e não aos discípulos, que não são considerados isentos. Todavia o próprio Jesus a paga, por que os que administram o Templo não estão preparados para entender a sua natureza.