Nós cristãos somos educados muito mal. O maniqueísmo parece ainda dominar nossas concepções de vida religiosa. Com certeza as igrejas, com seus métodos de formção, têm a sua parcela de culpa. Segundo os maniqueus o ser humano é caracterizado por uma realidade dualista: somos fruto de uma mistura de dois princípios em luta entre si: a luz (o bem) e as trevas (o mal). É nossa missão, segundo essa visão, preparar a vitória final do bem sobre o mal, oxalá através de privações e sacrifícios.

Não quero defender uma atitude gnóstica, a libertinagem, mas aprofundar o conceito de pecado. No fundo, muita gente gostaria, embora tanto longe da Idade Média, ter uma lista de ações e, paralelamente, a definição em relação a pecado, ou seja, se é pecado ou não. Quem sabe até com a descrição da relativa pena para a expiação da falta, como existia há tantos séculos na história da igreja.

A base fundamental para uma reflexão sobre o pecado, que elimina a visão maniquéia, é que Deus é o autor de todas as coisas. E, como diz o livro da Gênesis, Ele viu que tudo era bom. É óbvio que essa premissa não nos proíbe questionar sobre como a experiência do mal seja compatível com a idéia de Deus criador, que fez tudo bom. Criou Deus também o mal? Agostinho dizia que o mal não é um ser, mas a falta de ser. Literalmente, em Confissões III, 7,12 diz: "o mal não é outra coisa que a privação do bem".

Biblicamente, e também apoiados na visão de Agostinho, o pecado não é simplesmente a transgressão de uma ordem moral, mas uma condição que afasta de Deus. É por isso que os profetas veem o pecado não como a violação de um tabu ou transgressão de um mandamento, mas a interrupção de uma relação pessoal com o divino, uma traíção da confiaça que Deus colocou em nós. Portanto, em nossas ações, devemos ter como parâmetro de juízo o fato de que aquilo que fazemos tem presença do divino, do modo de ser divino, ou significa ausência do modo de ser divino. À medida que uma ação se afasta do modo de ser divino, é mais pecaminosa.

Sinto muito, mas não respondo objetivamente a sua pergunta. Seria muito fácil, mas evitaria que você refletisse profundamente sobre o significado de pecado. Acredito que a recita mais eficaz contra o pecado, que existe, ensinada por Jesus, é combater a ausência de ser "“ para retomar o pensamento de Agostinho "“ com o amor e o perdão, destruindo a lógica da violência e da vingança, como nos lembra Paulo em Romanos 12,17: "a ninguém pagueis o mal com o mal; seja vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens".