O batismo das crianças é uma prática muito comum na Igreja Católica e em outras igrejas tradicionais. Não é praticado, invés, em muitas igrejas evangélicas. À base dessa discussão se encontra a concepção do batismo.
Posição contrária ao batismo às crianças
Muitos retém que o batismo, como contado na igreja nascente, no Novo Testamento, é a consequência da adesão à vida cristã, fruto de um processo que levava a pessoa a exercer a fé em Cristo com um testemunho público da identificação com Jesus (Veja Atos 2,38 e Romanos 6,3-4). Portanto, o batismo é uma passagem depois de ter exercido e abraçado a fé, coisa que uma criança não pode fazer, pois incapaz de fazer escolhas conscientes.
Pensam que os cristãos que praticam o batismo das crianças julgam o batismo como se fosse a circuncisão praticada entre os judeus: No Antigo Testamento a circuncisão, praticada no oitavo dia de vida da criança, ligava a pessoa ao povo de Deus e no Novo é o batismo da criança que liga a pessoa à grande família cristã. Os que contestam o batismo das crianças julgam essa concepção como sendo contrária à Bíblia, pois no seu entender o Novo Testamento não descreve o batismo como um sinal da Nova Aliança, mas sublinham que é a fé em Cristo que dá a possibilidade à pessoa que alcançar as bênçãos que derivam da Nova Aliança selada através da encarnação de Cristo.
Por último, julgam que o batismo não salva ninguém. Mesmo se alguém é batizado quando é pequeno, não significa que será salvado, pois a salvação depende exclusivamente da adesão de fé, uma escolha pessoal e consciente.
Posição favorável ao batismo das crianças
Resumo aqui essa posição colocando alguns textos do Catecismo da Igreja Católica, mesmo lembrando que são diversas igrejas cristãs que fazem o batismo das crianças.
1226. O santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito(«vitae spiritualis ianua – porta da vida espiritual») e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. Pelo Baptismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão. O Baptismo pode definir-se como o sacramento da regeneração pela água e pela Palavra (número)
Sobre o batismo das crianças
1250. Nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, as crianças também têm necessidade do novo nascimento no Baptismo para serem libertas do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus (44), a que todos os homens são chamados. A pura gratuidade da graça da salvação é particularmente manifesta no Baptismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam, a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o Baptismo pouco depois do seu nascimento (45).
1251. Os pais cristãos reconhecerão que esta prática corresponde, também, ao seu papel de sustentar a vida que Deus lhes confiou (46).
1252. A prática de baptizar as crianças é tradição imemorial da Igreja. Explicitamente atestada desde o século II, é no entanto bem possível que, desde o princípio da pregação apostólica, quando «casas» inteiras receberam o Baptismo se tenham baptizado também as crianças (48).
Mais detalhes sobre o que pensa a Igreja Católica sobre o batismo estão disponíveis nesse link.
Alguns pontos de reflexão
Existem algumas suposições históricas falsas a respeito do batismo das crianças. Uma delas é que na igreja primitiva não se batizada as crianças.
Há um livro importante de Joachim Jeremias (Le baptême des enfants dans les quatre premiers siècles) que trata da história do batismo no início da igreja, principalmente nos 4 primeiros séculos da era cristã. La sua tese, depois de ter analisado diversas passagens bíblicas e testemunhos dos primeiros padres da igreja, é que o batismo das crianças fosse uma prática comum na igreja primitiva. Muitos padres da igreja, no segundo século, testemunham que foram batizados quando eram crianças. O autor, porém, não considera somente as passagens dos Padres, mas baseia sua tese em textos do Novo Testamento onde transparece que quando um cristão se convertia e se batizava, com ele fazia a mesma coisa toda a sua família, inclusive as crianças. Para tanto cita Atos 16,15 (Lídia: "tendo sido batizada, ela e os de sua casa..."), Atos 16,33 (carcereiro de Paulo e Silas: "Acolhendo-os, então, naquela mesma hora da noite lavou-lhes as feridas, e imediatamente recebeu o batismo, ele e todos os seus"), Atos 18,8 (Crispo, chefe da sinagoga: "creu no Senhor com toda a sua casa").
Outra questão importante está na reflexão teológica, intimamente ligada ao pecado. O batismo é para a remissão do pecado! Houve momentos na história que isso levou os cristãos a atrasar o máximo possível o batismo, se fosse possível próximo à morte, de modo a perdoar todos os pecados e ter garantida a vida eterna.
A questão da ausência de pecados na criança já foi levantada há muitos séculos, mesmo na igreja primitiva. Isto é, se o batismo é dado para a remissão do pecado e a criança, sendo pura, que sentido tem batizá-la? Orígenes (viveu de 185 a 253) tratou esse argumento em diferentes textos. Por exemplo, no comentário a Romanos 6,5-7 diz:
“A criança recém-nascida já cometeu pecado? Existe sempre um pecado pelo qual se comanda de apresentar um sacrifício. É por isso que a igreja recebeu dos apóstolos a tradição de administrar o batismo também às crianças (parvuli). Pois os homens a quem foram transmitidos os segredos dos ministérios divinos sabiam que em todos existiam desde pequeno reais sujeiras devidas ao pecado, que deviam ser lavadas por meio da água do Espírito”.
Ainda, do ponto de vista teológico, acredito que falte um estudo sério que verifique a questão do significado que as diversas gerações, historicamente falando, desde os primeiros séculos, deram ao batismo e também qual significado que damos a ele. A atitude dos cristãos que batizam as crianças ainda pequenas pode contribuir a ver nele algo de mágico, uma segurança. A posição dos evangélicos pode, invés, lembrar a importância do aspecto da comunhão com Deus e ajudar a superar o conceito limitado do perdão recebido. Além disso, chama a atenção ao fato que o batismo não é meramente uma formalidade. Todavia, do meu ponto de vista, nada impede que o batismo a uma criança compreenda seja o aspecto do perdão dos pecados que aquele da comunhão com Cristo.
Se você estiver interessado no assunto, não deixe de ver uma monografia apresentada por Helder Nozima Pereira ao Curso de Bacharelado em Teologia do Seminário Presbiteriano de Brasília. Essa tese é disponível OnLine (click aqui) e tem como título "Uma análise histórico-teológica do batismo infantil" e confronta a posição católica, reformada e batista.