Há alguns dias escutamos notícias sobre a destruição de restos arqueológicos por parte de fundamentalistas religiosos em cidades do Iraque, primeiro em Mossul e Nínive e agora em Nimrud. Não sabemos bem em que consiste essas destruições, se é apenas propaganda ou se realmente querem apagar uma página importante da cultura humana (leia o post de Airton José da Silva). De qualquer forma é evidente o risco que representa a atual situação para a memória histórica também da cultura bíblia, pois a história bíblica tem íntimas ligações com esses lugares. É para recordar essas ligações que escrevemos essas linhas.
História de Nimrud
Assim é chamado hoje o local onde se encontram os restos arqueológicos da cidade que antigamente se chamava Cale e, na Bíblia, Kalkh, que fica a cerca de 30 quilômetros de Mossul, no norte da Mesopotâmia. O nome Nimrud foi dado pelos arqueólogos, pois a cidade teria ligações com um personagem chamado Nimrud (às vezes “Nemrod”), que aparece na Bíblia:
Gênesis 10,8-12: Cuch gerou Nemrod, que foi o primeiro potentado sobre a terra. Foi um valente caçador diante de Iahweh (...). Os sustentáculos de seu império foram Babel, Arac, Acad e Calane cidades que estão todas na terra de Sanaar. Dessa terra saiu Assur, que construiu Nínive, Reobot-Ir, cale, e Resen entre Nínive e Cale (é a grande cidade).
1Crônicas 1,10: Cuch gerou Nimrod, que foi o primeiro homem poderoso na terra.
Aos poucos a cidade perdeu o seu vigor, primeiro graças a Senaqueribe que transferiu a capital do Império Assírio para Nínive e finalmente foi conquistada em 612 pelos babiloneses.
Nimrud e a Bíblia
A cidade de Nimrud ganhou fama quando se tornou a capital da Império Assírio, com o rei Assurnasirpal (governou de 884 a 859 antes de Cristo) e alguns dizem que podia ter até 100 mil habitantes. Era ainda a capital desse império no tempo de Tiglat-Pilesser III (governou de 745 a 727 antes de Cristo) – na Bíblia é chamado, às vezes, de Pul. Esse rei é mencionado na história bíblica porque foi ele que começou a criar problemas para os reinos de Judá e Israel. Em Israel, exigiu 1000 talentos como impostos ao rei de Israel Menaém (2Reis 15,19-20) e derrotou o rei Facéia, depordando os habitantes para a Assíria (2Reis 15,29) e colocando um rei fiel a ele no poder em Samaria, Oséias (governou de 732 até 723 antes de Cristo). Judá, com a capital em Jerusalém, não se coalizou com outros reinos (sírio, arameu) para contrastar a invasão assíria. Foi ameaçado por essa coalizão e o rei Acaz de Jerusalém chamou os assírios para proteger Jerusalém (Isaías 7 denuncia essa atitude do rei). Conquistou assim a simpatia de Tiglat-Pilesser III, também pagando pesados impostos com o ouro do templo.