Como provavelmente todos lembram, Apocalipse 17 fala da "Prostituta" e da "Besta", o castigo de Babilônia. Mas antes de entrar na questão em si, gostaria de propor uma reflexão.
O que é profecia
Nós costumamos entender a profecia como um predição do futuro, uma palavra sobre o que acontecerá no futuro: os profetas eram capazes de predizer, de ver antecipadamente as coisas que acontecerão, um pronunciador de oráculos. Esse é o conceito tradicional que temos na cabeça.
Nós normalmente entendemos a profecia como um predição do futuro, uma palavra sobre o que acontecerá: os profetas eram capazes de predizer, de ver antecipadamente as coisas que acontecerão, um prenunciador de oráculos. Esse é o conceito tradicional que temos na cabeça.
Tal ideia deriva da palavra grega usada para esse personagem: Pro-phemi (predizer). Todavia o Antigo Testamento, onde aparecem os profetas, foi escrito em hebraico e a palavra usada è nabi (provavelmente significa “aquele que chama” ou “aquele que anuncia”). Se lemos com atenção os livros proféticos, vamos perceber que no fundo os profetas não fazem previsões sobre o futuro, mas simplesmente são como líderes que chamam a atenção para a observância daquilo que poderíamos chamar de ética religiosa ou ethos bíblico; é alguém que preserva o bom comportamento, que chama a atenção daqueles que pensam ter em mãos a salvação, um denunciador de injustiças, da sede de poder. Os profetas contestam todos aqueles que se contrapõe a Deus. Pessoalmente não acredito que soubessem aquilo que aconteceria no dia seguinte, na semana ou ano successivo.
Talvez a melhor forma de traduzir “nabi” não seja “profeta”, mas “anunciador”, como já propôs Martin Buber.
Por outro lado, não podemos tirar a conexão dos profetas com o futuro. Ele não é anunciado como forma de previsão do que vai acontecer, mas como um processo que irremediavelmente os que escutam tem que percorrer. O profeta os coloca diante de uma escolha moral e religiosa. É por isso que eles repetem: “Se você se afasta de Deus, vai ser punido, mas se se comportam bem, Deus vai conceder a graça”.
O Talmud sintetiza muito bem a tarefa do profeta: “nenhum profeta anuncia alguma coisa diferente daquilo que deve ser, mas que não deve necessariamente ser” (Tos a bJebamot 50a).
Apocalipse 17
Se consideramos a reflexão acima, não podemos mais ler as palavras do último livro da Bíblia como relacionadas com o futuro, mas como a análise da realidade e um convite à conversão. Quando João escreveu, sem dúvidas, estava falando do Império Romano. Babilônia, aquela que trouxe o mal para o povo de Israel há 600 anos antes de Cristo, na época da igreja nascente, tornou-se o Império Romano, que perseguia os cristãos.
Nós hoje somos convidados a ver a própria realidade e julgar qual é a grande prostituta, a Babilônia, a besta que nos afasta de Deus, que traz o mal invés do bem. Não creio, absolutamente, que possa ser o papa ou o Vaticano, como muitos pensam!
A aplicação da “profecia” de João vai ser diferente em cada época. É um convite à leitura atenta da própria realidade que deve impelir à ação para contrastar o mal, aquilo que nos afasta de Deus.