Um ponto importante revelado através de Jesus Cristo é que todos somos chamados à salvação e que o Filho de Deus veio exatamente trazê-la a todos, sem distinção: "Vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (João 10,10). Disso se deduz claramente que o que Deus quer é a salvação de todos, que ninguém pereça (veja João 3,16).
Ao mesmo tempo é um elemento chave da teologia a onisciência divina, o seu conhecer tudo. Ele nos conhece de forma tão íntima que nem mesmo nós mesmos sabemos, como afirma bem o Salmo 139,1;3:
Iahweh, tu me sondas e conheces:
Conheces meu sentar e meu levantar,
de longe penetras o meu pensamento;
examinas meu andar e meu deitar,
meus caminhos todos são familiares a ti.
Diante dessas verdades, precisamos entender bem o que significa a presença divina na nossa vida. É um debate já muito presente na histórica do cristianismo. Basta mencionar Calvino, com a sua teologia da predestinação que afirma que somente alguns, independentes da própria ação, são predestinados à salvação e, por outro lado, Armínio, teólogo holandês que contrasta com Calvino sublinhando a importância do livre arbítrio na salvação humana.
Como já tive oportunidade de dizer aqui no site, falando sobre destino, o ser humano é criado por Deus com uma característica fundamental: a liberdade. É claro que, como disse Agostinho, o nosso coração não repousa em paz enquanto não encontra Deus. Portando, existe uma necessidade natural de ir em direção de Deus - condição para a felicidade verdadeira, mas isso não impede que alguém decida de rejeitar essa natureza. Destino não existe: existe decisões que fazemos na vida que nos conduzem ou nos afastam de Deus.
Concluindo, Deus não é mal, não é sádico, não nos criou destinados à perdição, mas quer a nossa salvação e nos criou para isso. E nos acompanha com sua graça. Porém, espera a nossa decisão e coloca nas nossas mãos o nosso próprio destino. Não somos apenas bonecos, manipulados por Deus, mas filhos, senhores da nossa história, que é sempre iluminada pela graça divina.