Quem nunca se fez essa pergunta? As respostas são as mais variadas e muitas delas entraram no nosso dia a dia. De fato usamos normalmente expressões que evocam esse tema: "paraíso perdido", "paraíso tropical", "paraíso fiscal".

Há muito tempo, através da profissão de fé, os cristãos dizem: "creio na vida eterna, na ressurreição da carne". Portanto a vida depois da morte, para o cristão, é uma verdade. A confirmação desta verdade vem da Bíblia. Lembramos alguns textos:
Mateus 22,30-32: Com efeito, na ressurreição, nem eles se casam e nem elas se dão em casamento, mas são todos como os anjos do céu. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de Abraaão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas sim de vivos.
João 11,25-26: Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá.
João 14,2-3: Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito, pois vou preparar-vos um lugar, e quando for e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós comigo.
Romanos 8,11: E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós.

Se por um lado é evidente o dogma de fé que nos convida a crermos na Vida Eterna, por outro temos o problema de sabermos como será essa vida depois da morte e onde será.

Sobre come seremos, além do exemplo de Cristo ressuscitado, a carta aos Filipenses nos diz que Jesus transformará nossos corpos humilhados, conformando-os ao seu corpo glorioso (3,21).

Quanto ao lugar, no imaginário comum, acreditamos que estaremos no céu, no paraíso.

Durante o mês de agosto tive em mãos uma revista francesa (La Vie) que fez um dossier exatamente sobre o paraíso, como os franceses veem o paraíso. A enquete revelou que somente 36% acreditam no paraíso depois da morte. Aos entrevistados se questionou se o paraíso fosse aqui na terra, como seria. As respostas foram: um momento de serenidade (38%), um jardim extraordinário (20%), a casa dos sonhos (18%), um reencontro (15%), outras coisas (9%). Invés, se é um estado depois da morte, eles acreditam que é um lugar onde se reencontra aqueles que amamos (52%), local onde se vive a paz eterna (25%), onde não há sofrimento (20%), uma recompensa para aqueles que sofreram (19%), uma recompensa pelo bem feito (15%), um encontro com Deus (11%), comunicação com todo o universo (9%), ser sempre jovem (10%), lugar onde se pode satisfazer todos os desejos (6%).

A Bíblia não tem um capítulo que fale claramente da nossa situação depois da morte. As imagens que criamos, contudo, vêm da Bíblia. O paraíso, por exemplo, nasce do livro do Gênesis, que coloca os primeiros seres humanos num jardim plantado no Oriente. É uma imagem criada a partir da saudade da própria terra, tendo provavelmente diante dos olhos os jardins da Mesopotamia, durante o Exílio em Babilônia. Em seguida, na História da Salvação, ao povo é dada a promessa da Terra Prometida, um lugar onde corre leite e mel, uma lugar de abundância. Nesse contexto os profetas sonham com uma terra onde o clima será sempre clemente, as feras não se devoram... No Novo Testamento, fala-se sempre de Reino dos Céus, onde a entrada está reservada aos humildes e pacíficos, àqueles que têm o coração de criança (Mateus 18,3-4). Entrar ali não é fácil, como lembra a parábola de marcos 10: "é mais fèacil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". Fomos também acostumados com a imagem do banquete, uma grande festa, como uma festa de casamento: "Mas eu vos digo que virão muitdos do oriente e do ocidente e se assentarão à mesa no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacó"(Mateus 8,11).

O Paraíso, nos Evangelhos, normalmente é dito "Reino dos Céus". Em grego, é usada a palavra ouranos: literalmente, "céu". No tempo de Cristo a terra era concebida como envolvida por 3 céus: aquele do ar, aquele dos astros e aquele da morada de Deus. É o modo humano de descrever uma realidade transcendental, que não conseguimos agarrar com nossas mãos ou nosso intelecto. Como cristãos sabemos que existe, mas não conseguimos descrever de modo perfeito.

Sobre o aguardar a vinda de Jesus, talvez deveríamos trocar de registros, sobretudo em relação as nossas categorias de tempo. Provavelmente o tempo é um elemento que não existe mais depois da morte.