Lembremo-nos das palavras de Cristo segundo Mateus: Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, masdar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado. Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos (...) será chamado o menor no Reino dos Céus. Aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado grand no Reino dos Céus. (Mateus 5,17-19).

O Antigo Testamento (talvez seria mais correto chamá-lo de "primeiro testamento") não deve ser eliminado. Ele conduz a Cristo e nós precisamos sempre chegar até Ele. É uma tarefa contínua e nós precisamos daquilo que ele ensina. A revelação plena se encontra em Cristo, mas o Antigo Testamento nos ajuda a compreendê-la. De fato, Paulo diz na sua carta aos romanos 3,31: Eliminamos a Lei através da fé? De modo algum! Pelo contrário, a consolidamos. Lei aqui significa, de modo genérico, o Antigo Testamento.

Se pudesse usar uma metáfora, diria que o Antigo Testamento é como uma lâmpada que ilumina a mensagem de Cristo, que a des-vela para a nossa pobre percepção.

Obviamente inúmera questões podem surgir. De fato o Antigo Testamento possui textos estranhos à moral cristã, como a morte dos inimigos, para citar um caso entre tantos. Podemos nos perguntar: devemos tomar esses textos como importantes? Eles são historicamente importantes, mas não servem como argumento para mudar a moral cristã que nos convida a "dar a outra face"ao inimigo. Os textos do Antigo Testamento são históricos e testemunham a educação dada por Deus a um povo escolhido em modo tal que fosse capaz de acolher a encarnação de Cristo. É um caminho preparatório que pode ser útil ainda hoje.

O Documento Dei Verbum sabiamente fala assim da importância do Antigo Testamento para os cristãos, nos números 15 e 16:
A «economia» do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar profèticamente (cfr. Lc. 24,44; Jo. 5,39; 1 Ped. 1,10) e a simbolizar com várias figuras (cfr. 1 Cor. 10,11) o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do género humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, a verdadeira pedagogia divina (1). Por isso, os fieis devem receber com devoção estes livros que exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o mistério da nossa salvação.
Foi por isso que Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos, dispôs tão sàbiamente as coisas, que o Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo está patente no Novo. Pois, apesar de Cristo ter alicerçado à nova Aliança no seu sangue (cfr. Lc. 22,20; 1 Cor. 11,25), os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente assumidos na pregação evangélica adquirem e manifestam a sua plena significação no Novo Testamento (cfr. Mt. 5,17; Lc. 24,27; Rom. 16, 25-26; 2 Cor. 3, 1416), que por sua vez iluminam e explicam.


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