Olá Davi Junior de Brusque / SC!
Estou lendo os textos que envolvem a pergunta e elaborando uma resposta. Encontro dificuldades em elaborar um texto curto, com clareza para dar-te uma resposta. A resposta poderá seguir três direções interpretativas, uma literal, acompanha o texto seguindo um milenarismo, com uma destruição de tudo no final dos tempos, uma segunda que segue um simbolismo e espiritualiza o texto, boa parte da Igreja católica assim interpreta, justificando uma Igreja instalada e uma terceira que segue a inspiração da apocalíptica - profética do reino dos mil anos coerente com a tradição original do judaísmo e do cristianismo, que busca entender o texto a partir da utopia do reino dos mil anos.
Lendo a pergunta cheguei a pensar que ela segue a tentativa de interpretação literal do texto projetando uma perspectiva de final do mundo para a humanidade.
Respondendo a primeira parte da pergunta, falando de Satanás.
O livro do Apocalipse apresenta Satanás em quatro etapas:
Primeira etapa: Satanás no céu. Mostra a luta da mulher e o dragão em Apocalipse 12,1-6.
Segunda etapa: Satanás é jogado do céu para a terra. Miguel e seus anjos derrota Satanás. Apocalipse 12,7-12.
Terceira etapa: Satanás na terra:
Persegue a comunidade Apocalipse 12,13-17;
da poder a Besta Apocalipse 13,2;
da força ao falso profeta e aos reis da terra Apocalipse 16,13-16.
Quarta etapa: Arremessado no abismo por 1000 anos, é solto por um tempo e depois aniquilado. Apocalipse 20,1.
A dúvida está no final da pergunta.
Entende-se que Satanás será amarrado por mil anos, depois solto e exterminado, iniciando um reino de mil anos e não se fala no fim do mundo.
Para entender esta questão encontramos duas interpretações: uma interpreta no sentido literal. Este reino é um reino real de Cristo e sua Igreja, um reino histórico, político, que dura 1000 anos antes do juízo final.
A interpretação espirtualista entende que este reino corresponde ao tempo da Igreja, entre ressurreição de Jesus e o juízo final, é uma interpretação das Igrejas históricas incluindo a católica.
Esta próximo o fim do mundo?
Interpretando o texto do Apocalipse 20,1-3 sendo fiel a tradição apocalíptica católica e judaica constatamos que no Livro de Daniel 7, o juízo de Deus consiste na destruição dos impérios, representados pelas bestas, e a entrega do Reino ao povo dos santos, representados pela figura humana.
O juízo de Deus não é o fim do mundo, mas o fim dos impérios que causavam opressão ao povo de Deus. Começava assim o Reino de Deus no mundo e na história humana.
Esta idéia de Daniel reaparece no Apocalipse 20,1-3.
Nasce a utopia do Reino dos mil anos.
Esta utopia do Reino dos mil anos, não é considerada com visões assustadoras e de destruição do fim do mundo. Bem como não se entende como uma visão do fim do mundo, mas é uma visão que coloca um termo final a idolatria “dos imperadores considerados deuses” e põe um termino aos crimes sanguinários dos Impérios.
Esta Utopia dos mil anos é considerada complexa:
Acontecerá depois do julgamento de Roma/Babilônia.
Acontecerá depois da Parusia gloriosa de Jesus.
A Besta, o Falso profeta a serviço da besta, os reis da terra aliado a Besta são destruídos por Jesus.
Satanás é acorrentado e jogado no abismo. Solto novamente e aniquilado pelos santos.
Vem o Reino de Mil anos.
E finalizamos com a Nova criação, a Jerusalém celeste na terra.
Concluindo:
A presença do reino dos mil anos vai além da destruição de Roma, das bestas e da derrota de Satanás, mas não está alheia a história humana, realiza-se na história e é parte da nossa história.
Quanto ao final do mundo, cronologicamente não temos data determinada. Conforme Mateus 24 no discurso escatológico de Jesus:
“Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas só o Pai” (Mateus 24,36) Bíblia de Jerusalém.
Consulta:
VV.AA. Uma leitura do Apocalipse, cadernos Bíblicos 22, Edições Paulinas, São Paulo, 1983.
MESTERS, Carlos, Esperança de um povo que luta o apocalipse de São João uma chave de leitura, Paulinas, São Paulo, 1982, pag. 71-77.