Absolutamente não. Trata-se de costumes modernos, sobretudo os cabelos coloridos, o fato de escutar música e principalmente o uso da televisão, descoberta há poucas décadas. Vetar essas coisas pode ser uma revindicação lícita de certos grupos, mas é errado fundamentar essa escolha na Bíblia.

Muitas regras ortodoxas de comportamento pretendem se basear principalmente em textos de Paulo, que, em várias ocasiões, fala de situações concretas da vida do cristão. Já tive oportunidade de citar o texto de 1Timóteo 2,9-10, que diz: "Quanto às mulheres, que elas tenham roupas decentes, se enfeitem com pudor e modéstia; nem tranças, nem objetos de ouro, pérolas ou vestuário suntuoso; mas que se ornem, ao contrário, com boas obras, como convém a mulheres que se professam piedosas." Esse texto é muito belo. A sua mensagem, em resumo, é que a mulher não vale pela aparência, mas pelas boas obras. Com certeza o mesmo princípio valeria também para os homens.

Acredito que por trás dessas regras de comportamente exista um grande machismo. Normalmente é a mulher que deve sacrificar-se, enquanto o homem, que normalmente estabelece essas leis, pode viver livremente. As comunidades intransigentes deveriam ao menos ser equilibradas quanto ao gênero. Paulo, por exemplo, determinava algumas normas de comportamento, mas delas não excluía os homens. De fato, encontramos em1Coríntios 11,2-16 um texto que diz que o homem não pode ter cabelos cumpridos e paralelamente proíbe as mulheres de ter cabelos curtos. Todavia essa norma não era uma simples regra de comportamente, mas inserida dentro de um contexto muito evidente, onde o apóstolo questionava um comportamento sexual, que se revelava através do modo como se usava os cabelos. Hoje, o fato de ter cabelo curto ou cumpridos não demonstra nenhuma tendência no comportamento sexual.

O nosso desafio é sermos cristãos dentro da sociedade atual. Excluir-se dela não significa necessariamente uma testemunhança. Os próprios monges, que vivem isoladamente, não assumem esse estado de vida para contestar a nossa realidade, mas para sublinhar outros princípios. Uma mulher pode se vestir muito elegante, seja com calças ou com saia, e testemunhar de modo eficaz o seu ser cristão. Da mesma forma, num bom programa de televisão posso encontrar espaço para aumentar minha fé. Em tudo o que fazemos, obviamente, deve transparecer o nosso ser cristão.