Como sabemos, a Bíblia em geral e o Novo Testamento em particular não nasceram da noite para o dia. No tempo de Cristo, o Antigo Testamento já existia e era usado comumente pelos cristãos também na igreja primitiva. Esses cristãos usavam a lista presente em uma tradução grega do Antigo Testamento, conhecida como LXX, que compreendia também os 7 livros escritos originariamente em grego. Os judeus, por volta do ano 90, excluíram esses 7 livros da lista oficial da sua Bíblia, pois o princípio básico era que um livro, para ser inspirado por Deus, precisava ser escrito em hebraico e por isso, tudo o que foi escrito em grego foi considerado não inspirado. A igreja cristã seguiu usando os 7 livros excluídos pelos judeus até o Concílio de Trento, no século XVI, com Lutero. A partir daquele momento, os católicos e outras confissões tradicionais continuam aceitando tais livros e os protestantes decidiram seguir a tradição hebraica.

Os 27 livros do Novo Testamento têm uma história diferente. Eles foram escritos depois da morte de Cristo. As cartas de Paulo foram as primeiras a serem escritas e os evangelhos vieram depois. Temos testemunhos de que os Evangelhos e as Cartas de Paulo, exceto aquela aos Hebreus, foram aceitas como livros fundamentais para os cristãos já no final do primeiro século e início do segundo. Logo depois, na segunda metade do II século, Atos dos Apóstolos, Apocalipse, 1 João e 1 Pedro entraram nessa categoria de livros.

No início do cristianismo, não existia uma decisão que determinava quais livros eram tidos como "Bíblia", como Novo Testamento. Os escritos circulavam pelas comunidades, mas nem todas conheciam todos os escritos.

A primeira lista de livros do Novo Testamento que temos é o assim dito "Cânone Muratori", descoberto em Milão, em 1740. Essa lista registra os livros que foram aceitos em Roma por volta do ano 200. Não se faz nenhuma menção a Hebreus, 1 e 2 Pedro, 3 João e Tiago, enquanto que cita todos os outros livros que temos hoje no Novo Testamento.

Em síntese, houve alguma dificuldade para admitir Apocalipse, Hebreus e algumas cartas. Só a partir do IV século podemos dizer que a lista foi definitivamente fixada. Atanásio, em 367, enumera todos os 27 livros.

Nesse artigo que escrevi há algum tempo, você encontra um tratado mais amplo sobre o tema do Cânon, da lista dos livros bíblicos.

 

Concílio de Niceia

Muita especulação se faz sobre esse encontro de bispos, acontecido, como você lembrou, em 325, na atual Turquia. As especulações são decorrentes do fato que a partir desse momento a igreja foi "aceita" pelo império e começou a viver um período de tranquilidade, graças a Constantino.

Os temas principais tratados se referem a aspectos teológicos inerentes à natureza divina de Cristo e a questão da Trindade divina.

Daquilo que resulta, o concílio não tratou o tema da lista dos livros bíblicos.