Há alguns dias, na imprensa, se fala do Evangelho Apócrifo de Judas Escariotes. Na verdade não há razões para alarmismos, pois a existência do texto é conhecida já desde o Século II quando o bispo Santo Irineu falou desse escrito e o definiu como erético (Contro os Heréticos, XXXI-1, c. 180). E além disso o papiro do qual se está falando foi descoberto já nos anos 50. A novidade é que apenas agora foi compreendida a sua importância, pois após testes com o Carbono 14 a data de tal manuscrito foi fixada entre os século III e IV, embora não tenham sido feitos outros testes, como normalmente se fazem para tais textos.

O apócrifo foi escrito inicialmente em grego, mas o atual papiro manuscrito, de 62 páginas, é escrito no antigo dialeto da comunidade dos cristãos coptos do Egito, copto saídico e com muita probabilidade vem da região de Minya, entre o Cairo e Luxor, no Egito, onde nos primeiros séculos florescia uma grande comunidade cristã gnóstica.

O texto do manuscrito está sendo traduzido em inglês, alemão e francês, sob a cordenação de Rudolph Kasser, um grande coptólogo, sob o comando da Fundação Maecenas para a Arte Antiga de Basiléia, Suíça, e da National Geographic, que comprou o manuscrito.

Uma idéia vaga do conteúdo já foi difundida, mas o texto completo ainda não. O estudioso dos Estados Unidos Charles Hedrick, diz, por exemplo, que nas páginas finais do texto se diz que Judas, o traidor, era um instrumento da vontade de Deus no projeto salvífico que culminou no sacrifício de Jesus pela humanidade, ou seja, sem Judas o projeto de Deus não teria se realizado. E então, no apócrifo, Judas seria apresentado como herói, incapaz de fugir ao próprio destino. Isso faz sentido, pois Santo Irineu assim fala do Evangelho, na citação que indicamos acima: "declaram que apenas Judas o traidor conhecia Verdade como ninguém e que por isso traiu Jesus. Escreveram uma história baseada nessa tese e a chamaram Evangelho de Judas".

Portanto não há nenhum alarmismo, mas apenas a certeza de o estudo do ambiente das primeiras comunidades cristãs se enriquecerá com este novo apócrifo. De fato os apócrifos, embora não sejam livros incluídos na Bíblia e nem sempre retratam a verdade, são de suma importância para o estudo do cristianismo.