Existem diferentes níveis de entendimento da Palavra de Deus. O simples fato de abrir a Bíblia e ler uma passagem já nos permite colher algum significado da mensagem divina. O estudo ajuda a entrar cada vez mais profundo nesse conhecimento, sempre voltando ao texto.
Todo texto bíblico há um contexto, uma história que justifica e condiciona a sua gênesis. Hoje ele transcende essa história, mas, de alguma maneira, é ligado a ela. Como biblista, acredito ser imprescindívil para alguém que quer se aprimorar no estudo bíblico a necessidade de estudar, em relação às cartas paulinas, as comunidades para as quais ele escreve.
Tomamos um exemplo, para deixar clara essa posição. Abrimos a Bíblia e lemos 1Coríntios 8. Esse capítulo fala da carne sacrificada aos ídolos, se podem ou não serem comidas. É um capítulo muito bonito. Uma leitura rápida vai deixar muitas mensagens, entre elas que "a ciência incha e a caridade edifica" e que a idolatria é algo não agradável a Deus. Mas sem uma visão histórica da realidade da comunidade, a base dessa mensagem pode ser vista de maneira limitada e até contorcida. Os ídolos eram deuses pagãos, gregos, aos quais eram sacrificados animais. A carne que não era queimada era vendida nos mercados. Os cristãos, que em Corinto eram poucos, se perguntavam se podiam ou não comer tal carne. Havia cristãos convertidos há pouco tempo, "fracos" na fé, que ainda não haviam adquirido a segurança. Paulo não vê problema em comer tais carnes, todavia, em nome da caridade, sugere que a carne não seja comida, para que os mais fracos sejam acompanhados no seu processo de crescimento na fé.
Esse contexto ajuda o leitor a entender melhor a mensagem paulina e evita também interpretações limitadas e fora da realidade.