Na época de Cristo haviam duas realidades "eclesiásticas", duas instituições ligadas ao judaísmo: o templo de Jerusalém e as sinagogas. O templo era o centro por excelência da expressão de fé, lugar onde estava a presença de Deus, segundo a tradição hebraica, onde o povo fazia as suas ofertas a Deus, através dos sacrifícios. Ao mesmo tempo, nas pequenas cidades da Palestina, e também na diáspora, existiam as sinagogas, que poderíamos compararar às nossas igrejas, aos nossos edifícios onde as comunidades se reúnem. Eram centros onde se estudava a Palavra de Deus, onde se celebrava, principalmente nos sábados. Jesus, por exemplo, teria aprendido a ler e escrever na sinagoga de Nazaré. Foi lá também que leu a passagem de Isaías, que sublinha o programa da sua ação.
Em nenhum momento Jesus fala mal do templo em si e também não fala mal das sinagogas. Há uma crítica, no episódio com os vendilhões do templo, ao modo de gestir a "casa do meu pai". Todavia o templo, para Cristo, era uma realidade positiva, em si. É verdade que também relativiza o seu valor, principalmente quando, no diálogo com a Samaritana, diz que virão tempos em que não se adorará o Senhor nem em Jerusalém, nem no Monte Garizim. O Monte Garizim, na Samaria, era o local onde se encontrava o templo dos samaritanos. A verdadeira adoração, conforme essa passagem de João 4, se realiza em "espírito e verdade".
O templo - a igreja - não é uma necessidade divina. O ser humano sim tem necessidade de algo concreto que funcione como ligação com o divino; algo imanente que o conduza ao trasncendente. Portanto, os edifícios de culto são uma necessidade humana. O ideal precisa de uma instituição, caso contrário corre o risco de morrer. Essa é a grande dialética que existe entre "intuição e instituição", que não podemos ignorar na nossa vida cristã.