Fábio, perdão, porém primeiro de tudo digo que não sei exatamente o que entende por "semio-discursiva". Penso queira falar de análise semiótica, de análise narrativa e de análise retórica e confrontá-las com o método histórico-gramatical. Se não é essa a sua preocupação, peço desculpas pelo engano. De qualquer forma creio que uma breve descrição desses métodos de leitura possa ajudar a compreender a história da interpretação do texto sagrado, a exegese e, oxalá, venha encontro a sua questão.

A semiótica, em geral, trata da produção, transmissão e interpretação dos sinais. Quando aplicado à leitura bíblica procura analisar o texto seguindo o princípio segundo o qual toda língua é baseada sobre um sistema de relações que obedecem a regras determinadas. Por isso o método considera que todo texto contém em si tudo aquilo que quer transmitir e por isso a análise estuda somente o texto, não recorrendo a elementos externos, como o autor, o destinatário e a história da redação.

A análise narrativa pretende compreender o texto como elemento narrativo, visto que a Bíblia é a narração da História da Salvação. A exegese narrativa então estuda a trama, os personagens, o ponto de vista do autore e como ele tenta, com o seu texto, envolver o leitor naquela narração. Segundo esse método existe um autor real, aquele que compôs o texto, e um autor implícito, aquele que o texto cria progressivamente. Ao mesmo tempo existe um leitro real, todo aquele que pode ler o texto, e um leitor implícito, o leitor que é capaz de entrar no mundo da narração, capaz de entender as motivações e lógicas afetivas do texto. Nesse sentido o texto pode continuar vivo na medida em que os leitores reais, como nós, podem se identificar com aquele implícito.

A análise retórica considera os textos bíblicos como textos persuasivos, que são formados por 3 elementos: o orador, o discurso e o público. Aplicados á Bíblia esses três personagens são, respectivamente, o autor, o texto e o destinatário. Esse método presta atenção em três elementos de persuasão do discurso: a autoridade do orador, as argumentações do discurso e as reações que este provoca no público. Para melhor apurar os textos e suas mensagens, se estudam os diferentes estilos de discurso existentes na literatura, seja bíblica que extra-bíblica.

Esses métodos de leitura da Bíblia têm um ponto comum: consideram o texto tal como ele é. São tidos como métodos sincrônicos, ao contrário daqueles chamados diacrónicos tais como a crítica da tradição, crítica da redação (por que o autor organizou o texto na forma atual e não em outra) e a crítica literária (se o texto é unitário ou se é fruto de ma edição).

O método histórico-gramatical procura encontrar o significado do texto bíblico baseando-se no significado das palavras, no seu sentido literal, à luz do contexto histórico em que foi escrito. Cada palavra não pode, porém, ser considerada singolarmente, mas na sua relação gramatical com as outras palavras dentro da frase, ou seja, precisa considerar a sintaxe do texto. Além disso é preciso entender o texto dentro do contexto histórico-cultural, que ilumina as intenções dos autores sagrados. Essa necessidade existe por que a Palavra de Deus, para transmitir-se, usou um veículo cultural relativo, diferente do nosso, que deve ser compreendido.

Todos o métodos apresentados têm a sua importância na tentativa de esclarecer o sentido da Bíblia. A semiótica sublinha a integridade do texto, uma realidade em si mesma; o método retórico tem toda a razão em sublinhar o texto bíblico como uma linguagem religiosa persuasiva, pois é uma mensagem que tem implícito um dinamismo de argumentação e uma estratégia retórica; a exegese narrativa tem a vantagem de mostrar o texto como um espelho que reflete a realidade da narração e influencia o modo de ver do leitor, levando-o a adotar certos valores invés de outros. De outra parte esses métodos também têm seus limites, pois podem reduzir o texto a um estilo, sem mensagem, ou também podem fazer dizer o texto aquilo que ele não diz.
O método histórico-gramatical, na verdade é a base de diversos métodos. Nele reside o perigo de ver o texto apenas como uma janela através da qual se observa aquilo que aconteceu há tanto tempo.

Pra resumir, os diferentes métodos de leitura bíblica são intrinsicamente positivos, mas também limitados. Uma leitura bíblica ideal é aquela que inclue diferentes métodos, pois poderá de forma mais plena entender a mensagem de Deus. Porém, por razões de competência, cada exegeta, normalmente è esperto em um método. De conseqüência, pra entender bem um texto é aconselhável ler diferentes comentários.