O tema da predestinação tem suas raízes na Bíblia, principalmente na teologia paulina, mas é mal interpretado por muitos.
A Bíblia sublinha o fato que somos povo eleito. No Antigo Testamento Israel era o povo eleito. No Novo Testamento, invés, toda a Igreja se torna a raça eleita (veja 1Pedro 2,9). Poderíamos dizer que se somos raça eleita somos, de qualquer forma, predestinados, escolhidos, especiais. Isso é confirmado pela teologia de Paulo, sobretudo em Romanos e na carta aos efésios. No primeiro capítulo de Efésios lemos:
Nele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e rrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito da sua vontade (Efésios 1,4-5).
E em Romanos 8,28-30:
E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, também os chamou; e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, também os glorificou.
Além disso, às vezes escutamos, em base a Apocalipse 14, que os salvados serão 144 mil, que já são escolhidos... Principalmente essa visão está errada. De fato, segundo a linguagem simbólica do autor apocalíptico, 144 mil é 12 x 12 x 100. Doze é o numero das tribos de Israel e dos Apóstolos e mil é sinal de multidão, de quantidade grande. Apocalipse 14 simplesmente quer dizer que os salvos serão muitos, vindos de todo o mundo.
Em relação à teologia paulina, realmente somos predestinados a sermos filhos de Deus. Não se trata de um destino, mas de uma natureza: temos dentro de nós o germe divino e somos chamados a seguir a vontade divina. Só assim nos realizamos. Mas nem todo mundo segue os ensinamentos dados por Deus, embora a sua graça seja destinada a todos, pois para Deus não existe distinção entre as pessoas e Ele ama igualmente a todos.
Os "desgraçados" o são por que escolheram de não estarem próximos de Deus, mas não por que foram predestinados à perdição.
Nós só seremos felizes se repousarmos em Deus, como sublinhava Santo Agostinho. Esse é o nosso destino: Deus. Como chegamos a ele, o percurso que faremos depende exclusivamente de nós. Não há uma estrada traçada, mas cada um é influenciado pelo seu próprio contexto e o resultado da sua vida dependerá das suas escolhas. Deus faz a sua parte, colocando em nós a semente, indicando, através da Bíblia e da vida, a estrada justa. Todavia, pede também que façamos a nossa parte, realizando as escolhas que nos aproximam dEle.