Esse fato é contato em 1Samuel 10. Para entendê-lo bem precisamos ter presente que Saul foi o primeiro rei de Israel, entre os três que teve, que governaram todo o território da Terra Prometida. Em seguida veio Davi e depois Salomão. Depois nasceram os dois reinos, o do Norte (Samaria) e do Sul (Judá). A eleição de Saul, que acontece através de Samuel, não foi algo desejado por Deus, mas um pedido do povo, que queria ter um rei como as outras nações. Diante da insistência do povo, Deus concede um rei aos hebreus.
Por causa desse contexto, na Bíblia o reino de Saul nem sempre é apresentado de maneira ideal. Ele, em seguida, será substituído por Davi. É uma sucessão muito tumultuada e nós, leitores, não entendemos bem por que Saul não pôde mais governar. Para Deus, segundo o contador da história, Saul não era um bom rei e a sua graça se afastou dele.
Esse juízo negativo está presente já no início da narração da história do primeiro rei de Israel. O esconder-se deve ser lido de maneira negativa, como alguém que se subtrae da sua missão, que escapa da vontade de Deus.
Escondido no meio das bagagens
Esse fato, descrito nos versículos 17-26, mostra a vontade de Deus de fazer com que Saul reinasse sobre o povo. Saul, invés, que já havia sido ungido no início do capítulo, se esconde. Mas Iahweh o revela: "Está ali, escondido no meio das bagagens".
Não é fácil de entender toda a história de Saul e esse capítulo 10 de 1Samuel é bastante complicado. Podemos tomar um sentido literal e um sentido mais profundo, nesse texto. Literalmente a passagem mostra o conflito entre monarquia e profecia. Israel deve ser governado por um rei, como as outras nações, ou por Deus, que envia profetas para indicar a estrada que deve seguir? De fato, nesse mesmo capítulo Saul aparece também como profeta (versículos 2 a 16). O autor da história deuteronomística é um defensor da profecia e não pode aceitar que o povo queria ser "como as outras nações". Por isso o primeiro rei é colocado quase em ridículo.
Um sentido mais profundo, que pode servir também hoje para nós, é que Saul está tentando se esconder, não assumir o próprio compromisso histórico. Não quer acolher a chamada divina, se dedicar ao trabalho de Iahweh.