Olá Priscila Piantino Silva de Passos - MG!

Está pergunta é muito comum. As pessoas são curiosas em querer saber este tempo da vida de jesus, que não encontramos nos evangelhos. Já respondi várias vezes a pergunta inclusive até artigos foram feitos. Deixo uma das respostas, que elaborei, olhando o material que dispunha acreditando que poderá ajudar a muitas pessoas. A resposta segue logo abaixo.

A única literatura que narra este tempo de vida de Jesus (14 anos aos 30 anos) é a literatura apócrifa. São os escritos que não se tornaram oficiais, pois alguns dos textos, inclue narrativa fantasiosas.

Deixo a indicação de 2 livros da literatura apócrifa que falam da infância de Jesus, um deles é o evangelho do Pseudo-Tomé, se encontra no livro de:

ZILLES, URBANO, Evangelhos apócrifos, tradução e introdução de Urbano Zilles, coleção Teologia 17, EdiPUCRS, Porto Alegre 2004., pág.113-126.

Um outro livro interessante :

BAGATTI, BELARMINO, GARCIA, FLORENTINO, La Vida de Jesús em los apócrifos Del Nuevo Testamento, Cuadernos Tierra Santa, Franciscan Printing Press, 1978, Jerusalém.

Sua pergunta é está: São estes escritos confiáveis: Estes livros são chamados apócrifos, pois não se tornaram oficiais, como os que temos no Novo Testamento.

Pode-se ler, e nas entrelinhas, obter muitas informações da vida oculta de Jesus 14-30).

O que procurei fazer na resposta que segue abaixo.

Estes livros poderás encontrar em qualquer Biblioteca de Teologia, ou mesmo pela internet.

Esta foi uma das respostas das perguntas que chegaram no portal:

O que Jesus fez dos 14 aos 30 anos?

Este tempo da vida de Jesus que os Evangelhos não narram sempre despertou em nós muita curiosidade. Deste período nos Evangelhos encontramos apenas a passagem de Jesus no Templo aos 12 anos de idade, discutindo com os doutores da lei. Depois disto um grande silêncio que vai até o início da vida pública de Jesus.

Se buscarmos explicações os próprios evangelhos nos fornecem. Inicialmente constatamos que os 4 evangelhos oficiais, escritos pelos evangelistas, em locais diferentes do Império Romano confirmam Comunidades de origem heterogêneas e com dificuldades próprias. Os evangelistas colocaram por escrito aquilo que oralmente as comunidades lembravam a respeito da vida de Jesus e que serviam de testemunho e força para a comunidade vencer as adversidades. É de se considerar que os fatos a respeito da vida de Jesus que marcavam as comunidades eram os acontecimentos da vida pública de Jesus e pouco importância foi dada para a sua vida privada no recanto da casa de Nazaré com Maria e José.

Mas por outro lado os textos que aparecem sobre Jesus deste período poderão nos ajudar a reconstruir elementos da sua vida oculta em Nazaré.

Os anos esquecidos de Jesus em Nazaré com Maria e José

Um episódio único deste período encontramos nos evangelhos. Jesus contava com 12 anos e numa Festa da Páscoa como era tradição Judaica, festa de preceito com peregrinação a Jerusalém, ele com sua família foram para a cidade de Jerusalém segundo a narrativa de Lucas. Jesus se perdeu em Jerusalém durante a festa da Páscoa e como Maria e José o encontram no Templo, sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os e todos os que o ouviam ficavam extasiados com sua inteligência e com suas respostas (Lc 2,46-47), A narrativa de Lucas nos conta que a sagrada família retornou para Nazaré e nada mais encontramos por escrito da vida de Jesus até os 30 anos.

A ausência de textos nos evangelhos para nos contar da vida de Jesus neste período alimentou a imaginação dos escritores que passaram a contar fatos inusitados da vida de Jesus. As afirmações são desde que Jesus esteve, na Índia com os Budas que o ensinaram a ler e a escrever, que esteve no Egito, conhecendo os segredos dos Faraós, que esteve na Inglaterra com José de Arimatéia e entrou em contato com a religião dos Celtas. Alguns escritores andaram dizendo que esteve na América onde entrou em contato com a sabedoria dos antigos peles vermelhas.

A leitura atenta dos Evangelhos como primeira fonte

O leitor desatento dos evangelhos poderá chegar a conclusão que existe um grande vazio de conhecimento dos 12 anos de Jesus até os 30 anos. Mas será isto verdade. No evangelho de Lucas encontramos pistas importantes para esclarecer os fatos. Lucas no início do Evangelho narra que Jesus uma vez apresentado no Templo segundo a prescrição judaica e as ofertas rituais segundo a Lei, “voltou para Galiléia, para Nazaré, sua cidade. E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com êle” (Lc,39-40). Assim podemos dizer que Jesus passou dos 12 anos até os 30 anos na cidade de Nazaré. Ele era um adolescente comum, de sua época, crescendo fisicamente e intelectualmente e ajudava seu pai adotivo José na carpintaria e na vida agrícola, pois a cidade não comportava o trabalho único e exclusivo da profissão de carpinteiro durante todo o tempo.

Encontramos nos evangelhos um segundo texto: Lucas 2,51-52. Este texto confirma o pensamento do primeiro narrando a perda de Jesus em Jerusalém com 12 anos de idade.

Jesus era um jovem como qualquer outro de sua terra

O evangelista Lucas simplesmente narra que depois do acontecimento da perda no Templo Jesus voltou para Nazaré. Podemos então concluir que Jesus permaneceu em seu círculo familiar, era submisso a José e Maria. Jesus estudou e trabalhou como qualquer Jovem Judeu de sua época.

Marcos confirma este dado, quando descreve que Jesus pregou pela primeira vez na sinagoga de Nazaré e os presentes neste acontecimento se assombraram e disseram: “De onde lhe vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais milagres por sua mãos? Não é este o filho do carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão?” (Mc 6,2–3). A vida de Jesus transcorreu, no pacato vilarejo de Nazaré e no dia que se apresentou na sinagoga de Nazaré causou surpresa a todos os conterrâneos. Mas afinal como conseguiu Jesus toda esta sabedoria, se ele é filho de pessoas conhecidas, José o carpinteiro e Maria. Se Jesus tivesse a oportunidade de estudar em Jerusalém ou ter viajado conforme os fatos que citamos anteriormente, este espanto não teria acontecido.

Entretanto, as indagações continuam, como poderemos encontrar fatos a respeito de Jesus durante este período? Como podemos ter informações a respeito de Jesus além de sua idas a Jerusalém nos períodos de peregrinações da religião Judaica a Jerusalém, ou de alguma viagem as cidades vizinhas de Nazaré. Hoje contamos com as narrativas literárias da época e das descobertas arqueológicas que muito nos ajudam.

Jesus um nome muito comum da época?

Conforme ordenava o livro do Genesis 17,12, os pais escolhiam o nome da criança e apresentavam ao sacerdote do templo fazendo uma oferta de sacrifício conforme a prescrição da lei judaica. Assim o nome escolhido por José e Maria foi foi Yehoshua, que em hebraico significa Josué, na região da Galileia, onde se falava de um modo diferente do resto do país, abreviava-se o nome e pronunciava-se Yeshu. Os primeiros cristãos de origem grega traduziram por Jesus.

O nome de Yeshua, era dos nomes mais comuns e ordinários da época, muitas famílias davam este nome aos filhos. O escritor Flávio Josefo, que descreveu a história Judaica de sua época menciona mais de 20 pessoas que se chamavam Jesus das quais, pelo menos 10 são do tempo de Jesus de Nazaré.

Em hebraico, Jesus (ou Josué) significa “Deus salva”. E segundo o evangelista Mateus, um anjo disse a José: “dar-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados”(Mt 1,21).

Jesus sabia ler e escrever?

Podemos citar três episódios que afirmam esta verdade:

O primeiro é aquele da mulher surpreendida em adultério. Jesus responde a pergunta dos fariseus escrevendo na areia “Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra” (Jo 8,6).

O segundo acontecido na sinagoga de Nazaré em que foi retirado pelos fariseus e era para ser jogado no precipício, “segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler e lhe entregaram o livro do profeta Isaías…” (Lc 4,16-17).

O terceiro é aquele em que os judeus, ao ouvi-lo pregar em Jerusalém, se perguntaram maravilhados: “Como é que este é letrado, se não estudou?” (Jo 7,15).Embora estes três textos podem ser contestados, pois o primeiro pode mos dizer que Jesus só traçou riscos na areia, no segundo são textos salteados de Isaías (isto é: Is 61,1; 58,6; e 61,2) e o terceiro se pode dizer que Jesus sabia os textos de cor, como era comum na época. Apesar de todas estas considerações olhando o contexto da época podemos acreditar que Jesus era um menino comum, vivendo em Nazaré e percorreu os caminhos das crianças da época, aprendeu a ler e a escrever.

A necessidade de aprender a ler e a escrever de toda a criança judaica

Olhando a literatura Judaica da época de Jesus vemos que toda a criança judaica, por motivos religiosos necessitava aprender ler e a escrever. Jesus não fugiu esta regra do judaísmo. Percorreu todos os caminhos que uma criança deveria percorrer.

Não temos, pois, nos Evangelhos provas seguras de que Jesus soubesse ler e escrever. Entretanto podemos saber por outras vias.

Durante o tempo de infância de Jesus existia em Nazaré, uma pequena escola, aonde se reuniam os meninos a partir dos 5 anos. O local por motivos religiosos estava anexo à sinagoga, e o programa escolar constava de dois ciclos básicos fundamentais.

O primeiro ciclo durava cinco anos. Se iniciava com o alfabeto hebraico, logo que se dominava a leitura se estudava a Bíblia ao ponto de decorar textos e junto com isto se ampliava os conhecimentos em outras áreas como geografia, história e gramatica hebraica.

Terminada esta primeira etapa, os meninos passavam para o segundo ciclo, que durava dois anos. Neles, aplicavam-se ao conhecimento da “Lei Oral” judaica (chamada Mishná), isto é, às interpretações e complementos que os doutores da Lei faziam das leis bíblicas.

Ao chegar aos 12 anos, os meninos terminavam os seus estudos. Se algum era particularmente brilhante, então podia cursar estudos mais avançados; para isso tinha de ir para Jerusalém ou outra cidade importante do país, e inscrever-se nas escolas dirigidas pelos mais célebres doutores da Lei. Mas isso era privilégio de uns poucos; a maioria dos jovens reintegrava-se na sua família, onde começava a aprender com seu pai uma profissão para ganhar a vida.

Sem dúvida, Jesus, durante a sua infância, assistiu como todos os meninos da sua época nos dois ciclos básicos escolares na sinagoga de Nazaré, onde aprendeu a ler e a escrever. Mas não parece ter recebido o ensino superior próprio dos centros urbanos como Jerusalém. O comentário que dele faziam os judeus dizendo: “Como é que este é letrado, se não estudou?” – confirma-o.

Jesus era carpinteiro?

Qual foi a profissão que Jesus praticou na casa de seus pais? Pela literatura Judaica sabemos que era uma obrigação do Pai encontrar uma profissão para o filho. Como vimos, São Marcos diz que quando Jesus pregou na sinagoga de Nazaré, os seus conterrâneos comentaram: “Não é este o carpinteiro?” (Mc 6,3). Daí se ter pensado sempre que ele foi carpinteiro.

Com o tempo alguns estudiosos colocaram dúvidas sobre esta profissão de Jesus: Afirmam que outros evangelhos como Marcos e Lucas preferem ocultar esta profissão alegando ser ela não bem vista na sociedade. Outros alegam que a Galiléia por ser uma região fértil todos se dedicavam a agricultura. As Parábolas de Jesus sempre se utilizavam de elementos vindos do campo (o semeador, a semente, a cizânia, a vinha, a figueira, o grão de mostarda, etc.), e não do ambiente da carpintaria…

O aludir tanto à agricultura nas suas Parábolas, em especial as do Reino de Deus, deve-se ao fato do auditório estar formado, por agricultores e que Jesus trabalhou tambem como agricultor, pois José não sobreviveria só da carpintaria, assim Jesus usou muito bem um recurso do discurso da literatura Judaica as Parábolas e procurou adaptar sua linguagem aos ouvintes. Podemos, pois, concluir que Jesus, durante os 30 anos da sua vida oculta, trabalhou como carpinteiro.

Como rezava Jesus?

Jesus aprendeu a rezar, pois qualquer criança israelita, depois dos 13 anos, deveria rezar três vezes por dia: de manhã, ao meio-dia e à noite segundo instruções dos livros bíblicos (Sl 55,18; Dn 6,11; At 10,9).

Um judeu devia recitar por dia duas orações a partir da adolescência. A primeira chamava-se “Shemá” (em hebraico, “Escuta”). E a segunda era a chamada “Shemoné Esre” (em hebraico, “Dezoito”)

Foi neste clima de oração que Jesus cresceu e que o marcou profundamente seu tempo de vida oculta.

A sinagoga de Nazaré nos sábados?

Desde a infância, aos sábados Jesus frequentava à sinagoga de Nazaré acompanhado pelos seus pais José e Maria. Com o andar dos anos, ele foi aprendendo todas as orações e os ritos, até se lhe tornarem fáceis e familiares.

Além da frequência na sinagoga, Jesus aprendeu que no sábado devia praticar o descanso total. Assim, desde Sexta-feira à tarde ajudava a mãe nos preparativos do sábado, participava dos rituais de abertura do sábado na família e da refeição no sábado na volta do serviço religioso na sinagoga.

Concluindo

A vida oculta de Jesus, como podemos constatar não teve nada de extraordinário, como a pintam as absurdas histórias e lendas sobre este período da vida de Jesus. Foi nesta atmosfera simples e familiar, própria das aldeias da Galileia, que o menino Jesus cresceu, amadureceu e descobriu a vida em uma família simples, igual a tantas outras das aldeias da Galileia. Fazia parte do coro dos meninos na escola, que recitavam textos da Bíblia, ouvia o monótono golpear do martelo de seu Pai José na carpintaria, ou o grito repetido da mãe, Maria chamando-o para casa tirando-o da rua. Este foi o clima que Jesus viveu e assimilou durante 30 anos. E quando chegou o tempo previsto em que o Pai do céu lhe pediu que deixasse tudo e fosse anunciar a mensagem de salvação aos seus irmãos humanos, nunca se arrependeu dos anos passados na pequena vila de Nazaré, na Galiléia, na sua casa, dos seus anos ocultos e silenciosos; do seu trabalho na oficina de carpintaria. Nunca considerou esse tempo como “perdido”, pois viveu cada dia e cada época como a melhor que tinha.