Diante do evento decisivo da sua via, aquele em que Cristo se revela na estrada para Damasco, Paulo teve que reelaborar todo o seu sistema religioso.

No átimo de uma iluminação começou a se dar conta que Cristo está no centro de tudo e que Ele é o mediador entre o homem e Deus e que é Ele que consegue conduzir de verdade tudo ao Pai. O resto, o seu ser judeu e objeto das promessas eternas de Deus, a observância da Lei mosaica, não é mais um ponto de partida privilegiado, por que não é suficiente, sozinho, para dar a salvação.

Paulo descobre que todos os seres humanos, circuncidados e incircuncidados, pecadores e justos estão no mesmo nível e, no caminho rumo a Deus, partem do mesmo lugar.

Quando ele toma consciência disso tudo, Paulo pode deixar de falar do resultado desta sua reflexão, de partilhá-lo. O que é a humanidade diante de Deus? O que significa para a humanidade o advento de Jesus Cristo? Para transmitir essa nova sabedoria, Paulo fala do PECADO e da JUSTIFICAÇÃO, dois conceitos que nos parecem complicados para entender, mas que constituem o coração e a alegria da vida cristã.

Nas cartas aos Romanos e aos Gálatas se encontra de maneira evidente o vocabulário da justiça e da justificação: nas cartas paulinas encontramos cerca de 90 ocorrências dos vários termos que se referem a esse tema (65% das ocorrências de todo o Novo Testamento, onde aparece 140 vezes). A conclusão é que se trata de um tema característico do pensamento paulino.

 

A humanidade sob o pecado

Romanos 3,22-23: Não existe nenhuma discriminação: todos pecaram e estão privados da glória de Deus.
Romanos 5,12: “Todos pecaram”.

Paulo fala da humanidade inteira, composta por judeus e pagãos, justos e pecadores. Essa humanidade é o objetivo do projeto de salvação de Deus. Visto que Deus é “justo”, isto é, “fiel a si mesmo”, àquilo que Ele é, quer reconciliar consigo toda a humanidade. Faz isso gratuitamente, através de Cristo. Essa é a sua justiça.

Primeiro de tudo Paulo explica a condição humana, partindo de uma posição muito pessimista; um retrato muito escuro que, porém, serve a ele para mostrar a estrada sem saída na qual se encontra a humanidade sem Cristo.

Se Deus realiza o seu projeto de misericórdia e de graça em Cristo para todos os seres humanos, significa que tanto os pagãos quanto os judeus, que têm a Lei, se encontram em uma situação de morte. Paulo fala usando hipérboles, ou seja, exagera a negatividade da realidade descrita. Sublinha o lado negativo do comportamento humano: os pagãos rejeitaram o criador para adorar os ídolos e o mundo; os judeus pensaram ser suficiente limitar-se a observar os mandamentos da Lei, pensando que obedecer a Deus significasse isso. Essa visão muito simples e quase caricatural serve a Paulo para dizer que todos os seres humanos caminho rumo à morte, pois invés do bem, fazem o mal.

Aprofundando os seus argumentos, em Romanos 5,12 Paulo diz:

“Por isso, como por causa de um só homem o pecado entrou no mundo e através do pecado a morte, assim a morte se propagou entre todos os homens pelo fato que todos pecaram”.

Ele volta às origens da humanidade e a Adão: essa situação humana, assim dramática, se baseia no primeiro homem: por causa do conceito judaico segundo o qual o grupo é, de qualquer maneira, influenciado por seu progenitor, assim também a humanidade está determinada por Adão. Paulo retoma esta ideia e monta o que nós conhecemos como “pecado original”, que significa pecado do início da humanidade.

É importante dizer que Paulo nunca usa explicitamente a expressão “pecado original”. Foi Santo Agostinho, no IV século que desenvolveu essa teoria, refletindo exatamente a respeito de Romanos 5,12. Paulo, invés, aquilo que faz é explicar, através da narração das origens da humanidade, aquilo que nota no seu mundo contemporâneo. A experiência humana não pode não reconhecer um mistério do mal tem ligações coletivas, e Paulo se apoia no mistério do pecado da humanidade das origens para explicar a presença do pecado e da morte no mundo. Uma outra coisa essencial é que para ele não interessa se concentrar sobre o pecado de Adão, mas sim sobre a graça abundante e gratuita de cristo, que conduz todos à justificação e à vida.

Essa descrição pessimista da natureza humana que chamamos de “pecado original” não é uma categoria moral, mas antropológica. Trata-se antes de tudo da inclinação ao mal e da resistência contra a ação santificante de Deus, presentes em todos os seres humanos “constitucionalmente”, pelo simples fato de ser descendente de Adão (quando se fala das crianças que recebem o batismo, os quais não podem ser culpados por pecado, parte-se do pressuposto errado que o conceito de “pecado original” seja uma questão moral).

 

O paradoxo da condição humana

A fé em Jesus tem o poder de transformar essa situação, porque incendia o processo da ação “justificante” do Espírito. Vamos explicar melhor isso.

No capítulo 7 da Carta aos Romanos, Paulo toma novamente o exemplo de Adão e Eva no Éden e faz uma exata descrição do drama interior do ser humano, que sofre em si uma divisão. Fala da Lei, do conjunto das normas que vêm da revelação feita a Moisés, que compreendem não somente as Dez Palavras, mas todos os mandamentos que a tradição oral considera no mesmo nível dos mandamentos escritos, a “lei oral”, também ela revelada a Moisés no Sinai.

Precisa, porém, entender por que existe a Lei, qual a sua função. A Lei é necessária para indicar onde está o mal, tem uma função pedagógica. Mas em si mesma não basta a tirar eficazmente o mal da terra. De fato, quantas leis existem no mundo? Mesmo assim o mal e o pecado estão ainda presentes. Ou melhor, às vezes parece que a própria lei leve à transgressão. Paulo observa e descreve essa experiência humana: “não teria conhecido a concupiscência se a Lei não tive dito ‘não desejar’”. Portanto, Paulo faz o seguinte raciocínio: não poderia falar de transgressão se não existisse uma proibição (a Lei sinaliza que um certo comportamento é pecado. Se não existisse a Lei, não saberia que estava pecando). Além disso, a obrigação de comportar-me em uma certa maneira ativa, dentro de mim, uma atração aos comportamentos que não são conformes a ela.

A inclinação à transgressão é como uma “auto-afirmação”, quase um tipo de independência do indivíduo de Deus e da sociedade, uma fuga da necessidade de partilhar a vida com os outros e com a sua liberdade.

Nesse momento Paulo fala de “pecado|amartia” no singular, personificando-o. Trata-se “da potência personificada do egocentrismo que se impõe aos seres humanos guiando-os à busca obsessiva de si mesmos e à negação prática de Deus, pelo qual o desejo intrínseco da pessoa verso o bem fica diminuído, pois as escolhas e os comportamentos são, de fato, negativos” (G. Barbaglio).

Resumindo, a lei é boa porque indica a estrada de Deus, porém, ao mesmo tempo, me leva para a morte, pois sou atraído egoisticamente pela transgressão e por que, mesmo não querendo transgredi-la, mas observá-la, não consigo observá-la toda. Nasce uma situação paradoxal.

Paulo exprime essa situação descrevendo a parte da humanidade que experimenta esse limite dramático:
Assim eu sei que o que acontece comigo é isto: quando quero fazer o que é bom, só consigo fazer o que é mau.
Dentro de mim eu sei que gosto da lei de Deus.
Mas vejo uma lei diferente agindo naquilo que faço, uma lei que luta contra aquela que a minha mente aprova. Ela me torna prisioneiro da lei do pecado que age no meu corpo.
Como sou infeliz! Quem me livrará deste corpo que me leva para a morte?
Que Deus seja louvado, pois ele fará isso por meio do nosso Senhor Jesus Cristo! Portanto, esta é a minha situação: no meu pensamento eu sirvo à lei de Deus, mas na prática sirvo à lei do pecado. (Romanos 7, 21-25).

 

A saída: justificados pela fé em Cristo

“Graças a Deus, por meio de Cristo nosso Senhor!”

No seu conhecimento de Cristo, Paulo descobriu que Jesus é o único que pode verdadeiramente realizar aquilo que a Lei não pode, isto é, tornar capaz de não pecar, de observar toda a Lei, pois em Jesus e no Batismo tem o dom do Espírito, que ESCREVE a lei nos corações come em cima de uma tábua de carne, como se os orações se tornassem a Tábuas de Moisés:

2Coríntios 3,3: “Vós sois uma carta de Cristo, entregue ao nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações”.

Dessa maneira o Espírito faz com que a criatura humana seja capaz de viver conforme Deus. Assim Paulo pode chegar a dizer que vive já conforme Deus, a Lei não serve mais:

Gálatas 5,16-24: Quero dizer a vocês o seguinte: deixem que o Espírito de Deus dirija a vida de vocês e não obedeçam aos desejos da natureza humana.
Porque o que a nossa natureza humana quer é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana quer. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que vocês querem.
Porém, se é o Espírito de Deus que guia vocês, então vocês não estão debaixo da lei.
As coisas que a natureza humana produz são bem conhecidas. Elas são: a imoralidade sexual, a impureza, as ações indecentes, a adoração de ídolos, as feitiçarias, as inimizades, as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta, a desunião, as divisões, as invejas, as bebedeiras, as farras e outras coisas parecidas com essas. Repito o que já disse: os que fazem essas coisas não receberão o Reino de Deus.
Mas o Espírito de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio. E contra essas coisas não existe lei.
As pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a natureza humana delas, junto com todas as paixões e desejos dessa natureza.”

Sem a presença liberadora de Cristo e a influência vivicante do seu Espírito, o destino final da humanidade estaria comprometido, sem remédio. O homem chamado a ter fé pode dar uma resposta positiva ao apelo de Deus de Jesus Cristo, renegando a opção fundamental egocêntrica e escolhendo viver segundo o código da gratuidade. O processo libertador que tem no Pai a sua fonte, vê a pessoa como sujeito comprometido em plena responsabilidade. A graça não tira a responsabilidade, mas promove decisões alternativas e novas (G. Barbaglio).

 

No Batismo

A adesão libertadora a Cristo é exprimida sacramentalmente no Batismo. Nele o batizado “morre” e “revive” como criatura nova, como ser humano novo em união com Jesus morto e ressuscitado. Colocados embaixo da influência boa e renovadora do ressuscitado, os homens e mulheres batizados são libertados da inclinação ao pecado e transformados livres para uma vida nova. Assim, nessa liberdade, a lei do egocentrismo deixa lugar à “lei do Espírito”.

Porém, a nossa experiência quotidiana nos faz ver uma realidade, muitas vezes, diferente: como pode ser que batizados e habitados pelo Espírito, ainda pecamos, ainda parece que esta realidade da ação do Espírito em nós não alcança o seu objetivo?

Paulo, que tem muita consciência desse problema, diz claramente que o fato de ter fé não significa automaticamente que tudo está alcançado, que o processo que nos faz livres seja automático ou mágico. Paulo, contra essa ilusão, fala sempre através de eloquentes exortações. Para ele a condição cristã é um caminho difícil e responsável, como aquele no deserto em direção da Terra Prometida (1Coríntios 10,1-13). Se feito com perseverança, esse caminho leva a uma realização perfeita e total da libertação operada por Cristo, que Paulo vê como verdadeiramente realizada: “Não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8,1).

 

Resumindo o pensamento de Paulo

  • A nossa experiência nos coloca continuamente diante da nossa condição de fraqueza em relação ao mal, que a observância da Lei de Deus não resolve sozinha.
  • Cristo nos liberta dessa escravidão que quase nos “obriga” a seguir a lei da “carne”, apesar de sermos atraídos pelo bem.
  • Cristo realiza essa libertação dando-nos o seu Espírito, através do batismo, que nos faz morre com Ele e nos d[a uma vida nova, como seres humanos novos, recriados do início, capazes de abraçar plenamente a Deus.
  • O Espírito “escreve” a lei de Deus dentro dos nossos corações, como fossem Tábuas da Lei mosaica, em maneira tal que nos comportar segundo a vontade divina se torna o nosso modo de viver.

 

A “justificação”

Perguntamos, enfim, em que consiste efetivamente essa “justificação” e como sabemos que em nós está se realizando a justificação e o que podemos fazer para que se torne realidade em nós?

O conceito de “justificação” é exprimido em grego com uma variedade de termos que todavia vem da mesma raiz:

  • O substantivo principal é “dikaiosyne”, o conceito global, a justificação realizada. Aparece 57 vezes em Paulo (91 em todo o Novo Testamento);
  • “Dikaiosis” é o substantivo que indica a ação de justificar, o processo da justificação (é usado somente por Paulo);
  • “Dikaioma” é o resultado da justificação, o resultado da “dikaiosis”;
  • Dikaioo” é o verbo “justificar”, fazer justiça.

No mundo grego-romano “justiça” tem a ver com o reconhecer o que é devido, realizar o próprio dever, principalmente em campo jurídico, mas também em campo moral.

Quando Paulo fala de “justiça” e “justificação” retoma uma ideia presente no Antigo Testamento, exprimida com o vocábulo hebraico “tsedaqah”. É um termo do campo forense, que denota “declarar justo”, “absolver”, em contraposição a “condenar”. Ser “justificado” significa, por isso, obter uma sentença de absolvição. Muitas vezes, no Antigo Testamento encontramos a Deus lidando com o seu povo, em um tipo de relação processual, principalmente quando o pecado do povo quebra a Aliança com ele.

Na Bíblia o termo “justiça” exprime, portanto, uma relação, aquela entre uma medida e uma realidade pesada, que precisar alcançar o empate. Por exemplo: peço três quilos de farinha (medida); quando forem dados todos os quilos pedidos, então terei um “empate”. Posso, então, dizer que “o peso é justo”, pois o que obtive é empatado com o que pedi.

No caso de Deus, o “empate” é o seu agir conforme si mesmo, com aquilo que Ele é. Se Ele é aquele que salva, então para ser fiel a si mesmo, a sua justiça será a salvação. Deus é justo porque age conforme si mesmo. Também Deus deu para si mesmo uma lei: é a Aliança com o seu povo e a fidelidade a esta aliança se reflete sobre todo o seu agir.

O tratado do Talmude Berackhot (Berakhot 7a) expressa essa justiça divina, caracterizada pela misericórdia, dizendo que Deus também reza e faz desse modo:

“possa a minha misericórdia frear minha raiva e prevalecer sobre o atributo da minha justiça, de maneira que eu possa tratar os meus filhos com benevolência, invés de impor sobre eles o rigor da lei”.

Transferindo o exemplo pro campo do comportamento moral, a medida corresponde à lei, a um tipo de modo de agir que é pedido para cada um. À medida em que me comporto conforme à lei, então existe um “empate” e tal comportamento é definido “justo”. Se a lei me pede para amar a Deus e o próximo com todo o coração, vai haver empate e “justiça” quando serei capaz de viver no “temor de Deus”, isto é, no amor por aquilo que ele é, e no amar ao próximo, nas “ações de justiça”, principalmente em favor dos mais necessitados e pobres.

O ser humano é “justo” quando se torna como Deus o criou, como o pensou, sonhou e inventou.

Para Paulo, portanto, Deus “justifica” por que fazê-lo é a sua justiça, isto é, tomando o versículo pessimista do início (Romanos 3,23-26):

Visto que todos pecaram e estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus: Deus o expôs como instrumento de propiciação, por seu próprio sangue, mediante a fé. Ele queria assim manifestar sua justiça, pelo fato de ter deixado sem punição os pedados de outrora, no tempo da paciência de Deus; ele queria manifestar sua justiça no tempo presente para mostrar-se justo e para justificar aquele que apela para a fé em Jesus.

Deus é fiel às suas promessas e por isso faz com que as pessoas sejam capazes de “empatar”. Visto que ele é justo no sentido que vimos, ele não pode deixar de ativar esse processo que leva o ser humano (e com ele a história e o mundo) à salvação.

O projeto de Deus para a sua criatura, desde a criação, é que seja a sua imagem. E esta imagem de criatura humana Paulo nos diz que a temos na pessoa de Cristo. É como se Deus tivesse em mãos um esboço de cada pessoa e, à medida que a pessoa se aproxima desta “forma”, a esta “medida” ele é justo. E esse processo (que não é um evento pontual, mas um caminho progressivo que se realiza durante toda a vida) de aproximação, feito graças à ação gratuita de Deus em nós, é a “justificação”.

Assim realizado, o homem é livre, capaz de fazer obras boas e de seguir em tudo o Espírito e de mostrar Deus de maneira transparente, na sua via. Para Paulo, “ser humano” e “cristão” são termos que se coincidem.

 

O pecado

Podemos entender o que é o pecado à luz deste projeto de Deus: não se trata de simples rejeição de Deus ou de rebelião, mas é a falta de realização da própria humanidade plena, como Deus a criou e sonhou.

Esta falta de realização se chama, em grego, “apoleia”, perdição. Trata-se de um “perder-se”. Diante do “perder-se” da criatura humana, Deus – que a ama infinitamente – não fica indiferente. Vendo que o ser humano, através do pecado, leva sua vida ao vazio, se irrita e se comove, por que o ama.

Visto dessa maneira, o pecado deixa de ser o centro de todas as obsessões do cristão e se torna um obstáculo “lateral” na estrada (mesmo se sempre importante, não marginal), que compromete a realização da pessoa e da felicidade a qual Deus nos chama. Um obstáculo que acompanha sempre a sua vida, mas em relação ao qual pode experimentar sempre a força positiva de Deus, que perdoa e “justifica”. Portanto, na vida do cristão não é o pecado e nem a transgressão o centro da atenção. O olhar de todo cristão se deve concentrar sobre a “medida” que Deus lhe deu, sobre o que é chamado a ser e que já é. Está dirigido para frente e não oprimido pelo peso do passado.

Não pretendo dizer que já alcancei esta meta e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo.
Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo. Nós, mais aperfeiçoados que somos, ponhamos nisto o nosso afeto; e se tendes outro sentir, sobre isto Deus vos há de esclarecer. Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente (Filipenses 3,12-16).

 

O imenso dom de Cristo à humanidade

Para Paulo a justificação, dom de Cristo, é incalculável na medida e na beleza. É, de verdade, a criação renovada, a possibilidade dada à humanidade de realizar o sonho de Deus de ser “a imagem e semelhança” de Deus e de morar no mundo junto com Ele, como era no princípio.

A Justificação começa com o batismo, com a remissão dos pecados, a libertação da escravidão da lei do pecado. No batismo, primeiro de tudo, Deus “desencalha” a pessoa do banhado no qual se atolou. Em segundo lugar, tendo iniciado a estar em contínuo contato vital com Cristo, a pessoa é inundada pelo Espírito que a renova constantemente, desde que viva escutando-o e em sintonia com ele: “se vivemos do Espírito, caminhamos também segundo o Espírito (Gálatas 5,25).

No inevitável confronto nem sempre vitorioso com o pecado, a esperança não deve nunca cessar de ser o aspecto distintivo da vida cristã. A fidelidade que Cristo promete é come uma garantia em vista da herança futura que nos espera. E Paulo não se cansa de exortar à alegria e à coragem. Assim ele faz nessa bonita passagem onde ele contempla a beleza e a potência do dom que Deus fez ao mundo, enviando seu Filho:

Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?
Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.
Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós!
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?
Realmente, está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro.
Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou.
Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades,nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor. 
Romanos 8,31-39.