Não é fácil ler a Bíblia. Junto com textos claros, objetivos, aparecem passagens obscuras. Daniel, por exemplo, lendo passagens de Jeremias se pergunta sobre o seu sentido (Daniel 9,2). Também o etíope, como contado por Atos dos Apóstolos, tinha dificuldades de entender uma passagem do livro de Isaías (Is 53,7-8) e reconhecia ter necessidade de um intérprete (At 8,30-35). A segunda carta de Pedro declara que "nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular" (2 Pd 1,20) e ela observa, de outro lado, que as cartas do apóstolo Paulo contêm "alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para sua própria perdição" (2 Pd 3,16).
Essas dificuludades fizeram com que as pessoas começassem a estudar a Palavra de Deus e aplicar métodos científicos nesse estudo, para poder entender melhor. Um desses métodos é o histórico-crítico.
Método histório-crítico
Basicamente falando, o método é o uso de instrumentos científicos que ajudam a interpretar o texto bíblico, escrito há muito tempo, por mãos humanas circunscritas a uma época particular. Esses instrumentos são:
Crítica textual: baseando-se nos testemunhos dos mais antigos e melhores manuscritos, das traduções e outras fontes se tenta estabelecer o texto bíblico que seja o mais próximo possível ao texto original.
Análise linguística: compreende o estudo da morfologia e da sintaxe, somado ao uso da semântica. O objetivo desse uso é determinar o início e o fim das unidades textuais, verificando a coerência dos textos entre si. Por exemplo, se existem diferenças inconciliáveis de pensamento dentro de um mesmo texto, é provável que o texto não é de um mesmo autor, mas de vários. Nesse contexto se determinam os gênereos literários, o ambiente que gerou o texto e qual foi a sua evolução. Acrescenta-se também a crítida da redação, que procura determinar a evolução do texto antes de ter sido fixado na forma atual que conhecemos.
Crítica histórica: se um texto pertence a um gênere literário histórico e ou está relacionado com um evento, a crítica literária é completada pela análise histórica, determinando os aspectos históricos, no sentido moderno de história.
Avaliação
Trata-se de um método de leitura que impulsinou muito o estudo da Bíblia. É fundamental para entender de maneira eficaz a Palavra de Deus. Todavia, o seu principal defeito está no fato que pode considerar a Bíblia como um "objeto de estudo", sem nenhuma base de fé. É, ao mesmo tempo, um método diacrônico, que pode perder de vista a unidade bíblica. É por isso que hoje se desenvolvem, ao lado do método histórico-crítico, outros métodos de leitura, tais como a análise retórica, análise narrativa e a semiótica, que são métodos que dão mais previlégio ao texto em si, ditos métodos sincrônicos de leitura da Bíblia.
Um só método de leitura não é capaz de revelar toda a riqueza que encerra o texto bíblico. Quanto mais métodos se aplicam, mais eficaz se torna a nossa compreensão do texto.