Infelizmente não sabemos quem Deus vai acolher no seu seio ou quem ficará fora dele. Acredito que aquilo que conta é a integridade do seu modo de viver, em conformidade com a vontade de Deus, descrita na Palavra de Deus.
Extra Ecclesiam nulla salus
Historicamente, a sua preocupação era uma questão muito marcada.
Assim já Inácio de Antioquia (+107) ensinava:
«Todos aqueles que pertencem a Deus e a Jesus Cristo, estão com o bispo. E todos aqueles que, arrependidos, voltam à unidade da Igreja, pertencem também a Deus... Não vos enganeis, irmãos: quem quer que introduza cisma (ruptura na Igreja), não herdará o reino de Deus» (Aos Filadelfos 3, 2s).
No século seguinte, por volta de 249-251, é Orígenes, famoso escritor cristão de Alexandria, quem observa:
«Se alguém quer ser salvo, entre nessa casa (a Igreja)... Que ninguém se iluda...: fora dessa casa, isto é, fora da Igreja, ninguém é salvo; se alguém sair, tornar-se-á responsável da sua própria morte» (In Iosue h. 3,5).
Contemporaneamente, em 251, observava S. Cipriano, bispo de Cartago:
«Quem abandona a Igreja para aderir a uma (seita) adúltera, se aparta das promessas feitas à Igreja. Não obterá as recompensas de Cristo, aquele que deixa a Igreja de Cristo... Não pode ter Deus por Pai aquele que não tenha a Igreja por Mãe. Caso alguém tenha conseguido salvar-se fora da arca de Noé, também fora da Igreja conseguirá alguém salvar-se» (De catholicae Ecclesiae unitate 6).
Esses padres da igreja diziam isso em base a textos dos evangelhos:
- Marcos 16,16s: «Ide pelo mundo inteiro, e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer, será condenado».
- Mateus 10, 14s: «Se alguém não vos acolher nem ouvir as vossas palavras, sai dessa casa ou cidade, sacudindo o pó de vossos pés. Digo-vos em verdade: haverá no dia do juízo menos rigor para a região de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade».
Hoje em dia a tendência é não ligar essa visão com "estar dentro" ou "estar fora" da igreja, eventualmente católica. Mas principalmente com o fato de "rejeitar o ensinamento de Cristo". De fato, a palavra dos evangelhos parecem exatamente sublinhar isso, a vontade deliberada de não acolher a mensagem divina por parte de quem recebeu essa revelação: se eu sei quem é Deus, qual o seu convite e deliberadamente rejeito a sua proposta, pra mim não tem salvação, estou fora da igreja, da comunidade dos que seguem a Cristo. Trata-se de uma decisão subjetiva e não de uma situação à priori. Se alguém não conhece a Cristo significa que não pertence a uma igreja, mas não quer dizer que não pode se salvar.
Mudar de igreja
A sua é uma pergunta não comum. Acredito que podemos ser fiéis a Deus em situações diferentes. Nenhuma igreja pode pensar ser a dona da verdade, a proprietária do ensinamento de Cristo. Certamente cada uma tem um pouco da verdade e a verdade completa será possuída somente quando houver união.
Penso que você pode ser fiel a Deus tanto na Igreja Católica quanto na Anglicana. Aquilo que acredito ser importante é que se questione o por que está mudando de igreja. Você muda porque as estruturas lhe permitiriam exprimir melhor sua fé? Ou você pensa que os ensinamentos daquela são melhores do que a católica? Será que você está inseguro e quer provar novas experiências? Trata-se de um problema fora de você ou dentro?
Não tenho respostas, mas convido a se perguntar por que quer mudar. Depois da pergunta, que venha a reflexão, a síntese e, então, prossiga pela sua estrada.