Existe diferença entre "criaturas de Deus" e "filhos de Deus", em relação aos seres humanos? Trata-se apenas de uma distinção linguística ou também de um aspecto teológico? Esse seria a pergunta que está à base da sua interrogação.
Alguns podem afirmar que aprenderam no catecismo que se nasce como criatura de Deus e, através do batismo, nos tornamos filhos de Deus. Outros, invés, poderão dizer que todos fomos gerados por Deus e se filho é aquele que é gerado, então somos todos filhos de Deus.
É um debate sério e interessante. Todavia precisaríamos prestar atenção, pois pode ser fonte de alguma discriminação.
Acredito que as duas correntes de pensamento têm algo de verdadeiro. Primeiro de tudo existe uma graça divina que prescinde da nossa iniciativa: fomos escolhidos como filhos por Deus, independente da nossa vontade, como dom; pura graça divina. Por outro lado o ser humano é chamado a responder ao apelo de Deus e se identificar com sua natureza divina, aproximando-se de Deus, vivendo em comunidade, na Igreja.
Existe em nós um "ser filho" que deriva do fato de sermos criados. Por isso Deus é pai de todos, pois dEle todos fomos criados. Isso já era inclusive afirmado em ambiente pagão, onde se dizia, por exemplo, que "Zeus era pai dos homens e dos deuses". Também no mundo dos judeus Deus considera e trata o seu povo como um pai a seus filhos.
Com a vinda de Jesus, somos chamados a nos tornar filhos através dEle, através da graça, a nos inserir na Igreja, que é a comunidade dos filhos de Deus. É importante considerar isso em sentido inclusivo e não exclusivo. Aqui está a possibilidade de engano.
A pertença do cristão a Deus, como filho, não pode suscitar em nós sentimento de superioridade ou até mesmo de desprezo em relação àqueles que não foram batizados, por exemplo. Todos nós somos criaturas e essa natureza comum deveria nos levar a vivel em solidariedade com todo o gênero humano. A igreja deveria ser sinal dessa unidade e não parâmetro de discriminação.