Certamente na história da humanidade há culturas onde o sacrifício humano foi praticado. Todos concordam que havia tal prática na cultura pré-colombiana asteca. A função de tal sacrifício é debatida e não existe acordo entre os antropólogos.
É provável que essa prática, em algum momento histórico, existiu também na cultura do Oriente Próximo, onde viveram os hebreus. Alguns veem vestígios dessa prática na ordem dada por Deus a Abraão de sacrificar o seu filho Isaac, em Gênesis 22. Como sabemos, tal sacrifício não foi realizado e o seu ensinamento tem uma índole completamente diferente do sacrifício humano.
Juízes 11
Esse capítulo conta a história de Jefté, filho de uma prostituta com Galaad. Foi excluído pelos irmãos, mas, por que era valente, foi chamando pelos anciãos para combatar contra os amonitas. O juiz fez então um voto ao Senhor (11,30-31):
“Se entregares os amonitas nas minhas mãos, aquele que estiver saindo da porta da minha casa ao meu encontro, quando retornar da vitória sobre os amonitas, será oferecida ao SENHOR, e eu o sacrificarei em holocausto!”
Jefté vence os amonitas e, quando volta para casa, sua filha única lhe vem encontro, dançando. O final é trágico, pois Jefté cumpre o seu voto.
Considerações
É provável que essa narração testemunhe práticas existentes no passado, mas é evidente, lendo outras passagens bíblicas, que o sacrifício humano não era suportado em Israel. Isso é confirmado por várias passagens da Lei, que proíbem o sacrifício. Por exemplo, Levítico 18,21 diz:
Não entregarás os teus filhos para consagrá-los a Molec, para não profanares o nome de teu Deus.
Os cananeus sacrificavam crianças ao deus Molec (palavra ligada ao vocábulo "rei"), queimando-as. Parece que isso foi praticado também em Jerusalém, na "Geena" (veja 2Reis 16,3; 21,6; 23,10; Isaías 30,33; Jeremias 7,31). Para condenar esses sacrifícios feito ao rei (Melek), esse "deus" (a palavra 'melek') foi vocalizado com as vogais da palavra boshet, que significa "vergonha" e tornou-se "molec".
Além do texto de Levítico, outros textos da Torá condenam essa prática: Levítico 20,2-5; Deuterônomio 12,31; 18,10).
Em relação ao comportamento de Jefté, não é fácil dizer o que aconteceu, se realmente a sua filha foi sacrificada ou simplesmente foi obrigada a permanecer solteira, longe da própria família, como pode insinuar o final da história. De qualquer forma, o que está em jogo nesse episódio é o comportamento de Jefté, que, de qualquer maneira quis comprar a vitória contro o inimigo do povo com um voto. Muitas vezes erramos, pensando em comprar a cooperação divina com o nosso voto, que deveria ser simplemeste uma maneira de agradecimento pela ação divina.