Em relação à pergunta que você nos manda, podemos citar dois textos. Começamos com a Carta aos Romanos. Nela Paulo assim diz:

Porque morrendo, Cristo morreu de uma vez por todas para o pecado; vivendo, ele vive para Deus. Assim também vocês considerem-se mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo (Romanos 6,10-11).

Se continuamos lendo a passagem de Paulo, parece que o problema na comunidade de Roma tinha muito a ver com o tema que você levanta. Alguns se perguntavam por que seguir uma vida reta, exercitando em não cometer pecado, se no fundo já tinham sido perdoados, não estando mais debaixo da Lei. A essa objeção Paulo responde com um seco “de forma nenhuma" (versículo 15). Ao invés diz que é verdade que ninguém é mais escravo do pecado, mas “livres do pecado, vocês se tornaram escravos da justiça" (Rm 6,16).

Outra passagem emblemática é tirada da Carta aos Hebreus:

Entretanto, ele se manifestou uma vez por todas no fim dos tempos, abolindo o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E dado que os homens morrem uma só vez e depois disso vem o julgamento, assim, também Cristo se ofereceu uma vez por todas, para tirar o pecado de muitos. Ele aparecerá uma segunda vez, sem nenhuma relação com o pecado, para aqueles que o esperam para a salvação (Hebreus 9,26-28).

Também nessa carta o autor deixa muito claro que a ação de Cristo é feita uma vez por todas. Apesar disso, da parte do fiel, é pedido uma perseverança na escolha feita, como se lê no capítulo seguinte:

Porque, falta apenas um pouco, e aquele que deve vir vai chegar e não tardará. O meu justo vive pela fé; mas, se ele volta atrás, nele eu não encontro mais nenhuma satisfação. 39 Nós, porém, não somos como aqueles que voltam atrás para se perder, mas somos homens de fé, para salvar a nossa vida (Hebreus 10,28-39).

O que fica claro nessa teologia, muito comum de Paulo, é que a graça de Deus, que nos salva gratuitamente, não depende da nossa ação. Independente da nossa vontade, Deus liberta a humanidade da escrevidão do pecado: é um presente! Por outro lado, isso não tira e nem condiciona a priori a nossa liberdade de aceitar ou não esse dom de Deus. E não só basta aceitá-lo uma vez por toda, mas precisa perseverar na escolha, pois o mal está sempre pronto a nos puxar para a transgressão e o abandono da reta via.